A história do matuto Jeremia, Num campo de futebol. |
|
I
Nas origens do sertão Tem muita coisa engraçada Coisas que surgem assim De qualquer coisa, dum nada. Eu falo do meu reduto Onde só tem cabra bruto E de palavra firmada |
II
Eu falo dum camarada Que se chama Jeremia Desses cabra inocente Que na cidade não ia Nem quando tava doente Tomava um chazinho quente E a dor logo sumia |
|
III
Porem um certo dia Precisô ir à cidade Resgatar um documento De sua propriedade É que teve uma invasão E pra não perder seu chão Recorreu a autoridade |
IV
Mais veja só que maldade Um grileiro lhe assaltô O pobre de Jeremia Sem sua terra ficô Trouxe o menino, a mulher. E se pegou com a fé Que tem em nosso Senhô |
|
V
Voltou pro interiô Para sua fazendinha Vendeu chocalho, vendeu cela, Vendeu bode, e galinha, Vendeu as vaca, o jumento, Porque o seu pensamento Era vender o que tinha |
VI
Bem cedo, de manhãzinha. Era a vida diferente Comprou logo uma casa Bonita, muito decente. Ficou meio abestalhado Ignorante, coitado. Quando via muita gente |
|
VII
Mas mesmo assim comumente Foi logo se adaptando Sua vida na cidade Estava só começando Não pensava em desgraça Metia era a mão na massa E assim ia se virando |
VIII
O menino ia estudando Tava sempre muito alerto Gostava de futebol Já sabia o dia certo Que o seu time jogava E contente festejava Com seu coração aberto |
|
IX
Certo dia o esperto Fez uma raiva a seu pai De manhã comprou ingresso O pai lhe disse “não vai” -Você esta de castigo Vai ficar aqui comigo E daqui você não sai |
X
Matuto que era o pai Repreendeu a bobagem E com aquilo na mente Pensando só na imagem De como era o futebó Então resolveu ir só Era fazer uma sondagem.
|
|
XI
O menino por sacanagem O ingresso ia rasgar O pai deu-lhe logo um bote Temendo ir precisar, Botou no bolso, e saiu. Na hora certa partiu E foi se certificar |
XII
No momento de entrar O ingresso ele entregou Passou pela borboleta E pra trás ele olhou “Tai! Num deixei rasgar”. Quando acabei de passar O segurança rasgou |
|
XIII
– Mas o caminho indicou E fui logo me adentrando Subi por uma escada Com os outros fui andando Lá na frente eu parei De boca aberta fiquei Somente observando |
XIV
O povo ia chegando Com camisas e bandeira E eu sentado na minha Só escutando a zoeira Quando os menino entrava O povo todo gritava É o paimera, paimera! |
|
XV Eu fiquei meio cabrera Sentindo medo da trama Eu não via a paimera E não entendia o drama E pra onde eu olhava Os meu zoi só avistava Só um tapete de grama |
XVI
Do outro lado a fama É dum time afamado Botafogo, Botafogo. Desse jeito era chamado Agora veja o programa Tocar fogo numa grama Eu acho muito arriscado |
|
XVII
Depois dum troço apitado Era os cabra choteando Correndo atrás da bola Tudo doido se matando E era uma agonia Aqui acolá caia Ficava se lamentando |
XVIII
Eu fiquei me martelando Já doido pra ir embora Pois tinha um cabra de preto Brabo que só caipora Mandador chei de razão Se alguém botasse a mão Ele mandava pra fora |
|
XIX
Mais acho que nessa hora Ele tava acomonado Com os dois cabra na barra Cada um de cada lado Eles pegavam com a mão Depois dava um chutão E ele ficava calado |
XX
O jogo já terminado Eu fiquei só esperando Pra vê se o povo saia Pro campo ir aliviando Pra baixar o excedente Mas veja que de repente Os cabra vinha voltando |
|
XXI
E foi o povo gritando Aquela mesma zueira O mesmo tempo de novo De novo a mesma besteira Um corria, outro chutava. Ali ninguém se cansava Com toda aquela carreira |
XXII
Eu só sei que a zoeira Tinha hora que aumentava Quando davam um chutão E na barra a bola entrava Ficavam todos gritando Tudo doido festejando Mas pra que? Se não furava. |
|
XXIII
Eu só sei que ignorava Porque nada entendia Futebol é troço bom Que até menino vicia Foi quando eu me empolguei Dei um pulo e entrei Pra dentro da correria |
XXIV
Pegar a bola eu queria Veja que desfaçatez Entrou logo a polícia Eu contei dezesseis Pra história terminar Futebol eu foi jogar Mas foi dentro do xadrez |