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Água doce

Água subterrânea será a alternativa no Semi-Árido nordestino.

A dificuldade de se encontrar água de boa qualidade no Semi-Árido nordestino levou o Governo federal a criar o Programa Água Doce, que tem o objetivo de fazer um aproveitamento adequado das águas subterrâneas da região. Na Paraíba, o programa é desenvolvido em parceria com o Governo do Estado, através da Agência Executiva de Gestão das Águas – AESA, cuja meta é colocar em funcionamento 35 dessalinizadores distribuídos no Semi-Árido. Água subterrânea será a alternativa no Semi-Árido nordestino.

A dificuldade de se encontrar água de boa qualidade no Semi-Árido nordestino levou o Governo federal a criar o Programa Água Doce, que tem o objetivo de fazer um aproveitamento adequado das águas subterrâneas da região. Na Paraíba, o programa é desenvolvido em parceria com o Governo do Estado, através da Agência Executiva de Gestão das Águas – AESA, cuja meta é colocar em funcionamento 35 dessalinizadores distribuídos no Semi-Árido.

O coordenador nacional do Programa Água Doce, Renato Saraiva Ferreira, esteve recentemente em João Pessoa e falou sobre o desenvolvimento do programa em todos os Estados nordestinos que sofrem com a falta de água, bem como tratou de temas polêmicos como o aquecimento global e a transposição das águas do Rio São Francisco.

O que é, e como funciona o sistema de dessalinização das águas?

O sistema de dessalinização é composto por um poço tubular profundo, bomba de poço, reservatório de água bruta, abrigo de alvenaria, o dessalinizador, reservatório de água potável e tanques de concentração de concentrados. A água subterrânea salobra ou salina é captada por meio do poço e armazenada em um reservatório destinado a água bruta. Em seguida, esta água passa pelo dessalinizador, que utiliza o processo de osmose inversa. Esse processo funciona com membranas que têm um filtro de alta potência que consegue retirar da água a quantidade e os tipos de sais desejados, separando a água potável daquela concentrada em sais. Por sua vez, a água dessalinizada é armazenada em um reservatório de água potável para a distribuição à comunidade e o concentrado, em outro recipiente para ser encaminhado aos tanques de contenção e evaporação. Conforme os costumes da comunidade e da qualidade química do concentrado, parte do efluente pode ser utilizado em cochos para dessedentação animal ou o que chamamos de "água de gasto". Em localidades que se enquadrem aos requisitos técnicos estabelecidos pelo programa, esse concentrado pode também ser utilizado no sistema produtivo sustentável.

Quais são os principais objetivos do Programa Água Doce?

Esse programa é uma iniciativa do governo federal, que inclui também as esferas estadual e municipal, com vistas de fazer um aproveitamento adequado das águas subterrâneas das áreas do Semi-Árido. O Água Doce trabalha com cinco frentes: social, ambiental, econômica, espacial e cultural e coordenado pelo Embrapa Meio Ambiente e executado por equipes de técnicos devidamente capacitados de cada Estado atendido pelo programa. O Semi-Árido nordestino está quase todo em cima de uma grande rocha. Em determinadas áreas existem rochas que afloram. Isso faz com que, quando ocorrem as chuvas, uma pequena camada de solo que absorve a chuva logo encontra resistência na grande quantidade de rocha e a água acaba indo embora, sem o seu devido aproveitamento. O solo em quase todo o Nordeste é impermeável. Esse é um dos grandes problemas da baixa capacidade hídrica da região. A partir de 50 quilômetros, saindo do Litoral, o terreno está sob uma rocha e a água na fina camada de solo escoa por entre as fissuras da pedra. Depois de 50 metros de profundidade encontra uma nova resistência. Por isso a grande maioria dos poços da região é de água salobra ou salina. Como a água vai permeando a rocha ela vai levando os sais que também estão na rocha. Dependendo da composição química da rocha vai se dá a composição química desta água.

Isso pode acarretar algum problema de saúde pública?

Claro. Muitas pessoas deixam de tomar água dos barreiros e açudes e vão tomar água subterrânea. Elas podem até escapar da contaminação bacteriológica, mas acabam caindo em contaminação química. Vários casos de pessoas com 20, 30 anos com artrose, devido a grande quantidade de cálcio acumulado na água em que elas beberam. Epidemias de diarréia causadas pelo magnésio na água. Então, conhecer as características dessas águas e dessas rochas e utilizar uma tecnologia adequada para o tratamento dessa água é uma das missões do Água Doce. A tecnologia da dessalinização cresce no mundo todo. No Nordeste estamos implantando mais de dois mil dessalinizadores.

Quantos dessalinizadores serão instalados na Paraíba, dentro do Programa Água Doce?

Mais do que instalar dessalinizadores nos Estados nordestinos, nós queremos recuperar os já existentes e mobilizar toda a comunidade para não deixar esses instrumentos perdidos no campo. Com baixo custo é possível e viável fazer com que essas máquinas voltem a funcionar. Boa parte dos dessalinizadores está parada por problema de gestão. Na Paraíba, temos vários dessalinizadores em pleno funcionamento, principalmente aqueles que as prefeituras assumiram a administração, ou que algumas comunidades resolveram gerenciar os dessalinizadores. Pelo Banco do Brasil, há alguns anos, foram implantados 35 sistemas na Paraíba. E são justamente estes o foco do Água Doce, em parceria com o Governo do Estado e Fundação Banco do Brasil. Então, vamos fazer a recuperação de todos eles e de 50 tanques dos afluentes. Por exemplo: 100 litros que passam pelo dessalinizador, 50 se torna água potável e os outros 50 litros ficam mais concentrados em sais. E, via de regra, são lançados no meio ambiente sem tratamento nenhum. O objetivo é, ao mesmo tempo produzir água potável e dá um destino ambiental ao que não for destinado à comunidade.

Quantos dessalinizadores, no Estado, já passam por um processo de recuperação?

Atualmente, estamos com 21 equipamentos sendo recuperados no Semi-Árido paraibano. Até o final deste ano deverão ficar prontos. É por isso que estamos aqui, para que seja instalado o Núcleo Estadual do Programa. Nessa nova gestão vamos ter toda uma nova dinâmica, também. A gente está vendo de uma forma muito positiva o andamento dos trabalhos, no sentido de conclusão das obras iniciadas e efetivamente, de uma forma sustentável, fecharmos acordos com a comunidade. Não vamos encarar isso como caráter emergencial. Temos que capacitar a comunidade e criar um fundo local mínimo, para que faça o dessalinizador funcionar, assim como, uma manutenção permanente de todo o sistema, na compra de equipamentos de baixo comum, como um filtro. Às vezes se passam cinco, seis meses aguardando um processo licitatório para a compra de um filtro. É sempre importante frisar que todos os equipamentos estão instalados nos municípios do Semi-Árido.

Qual o perfil desses municípios?

Todos eles possuem um baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), menor índice pluviométrico e maior mortalidade infantil. Esses são os critérios de desempate. A rigor, há mais de 50 anos os mesmos municípios, seja na Paraíba, Ceará, Pernambuco, Sergipe, figuram em estado de emergência. Ora, se já se sabe onde está o problema, vamos atacá-lo de frente. E que tende a se agravar com o aquecimento global e suas mudanças climáticas.

Até que ponto o aquecimento global atinge diretamente o Semi-Árido paraibano?

Sobre este assunto, para se ter uma idéia, medidas em todo o mundo estão sendo adotadas, para que se evite um aquecimento médio de três graus. Se todas as medidas realmente forem adotadas, o planeta vai aquecer, em média, dois graus. Isso é uma média, ou seja, soma os lugares mais quentes com os mais gelados.

Então, aumentando dois graus que seja, isso vai fazer uma diferença enorme no Semi-Árido. Onde já é quente ficará muito mais quente, porque as regiões gélidas vão ficar um pouco mais quentes. A tendência para no Semi-Árido é que ocorra mais evaporação, aumentar o volume de chuvas em espaços muito menores, o que provoca a dificuldade de acumular água. Em via de regra, a água subterrânea vai acabar sendo a única alternativa. O Água Doce entra também como uma medida preventiva do que está acontecendo por aí. Eu acho que todos os dados sobre o aquecimento global devem servir para análise e reflexão, mas é importante que todos os governos comecem a providenciar suas formas preventivas. Na verdade, nós não sabemos o quanto será mais crítico. Muitas vezes todas as probabilidades indicam uma grande chuva, um grande problema e nada acontece. Tem muita coisa na natureza que ainda não se conhece. Existem previsões de elevação considerável da temperatura no Semi-Árido.

O projeto de combate à desertificação nos mostra que todas as regiões que estão semi-áridas podem se tornar áridas e seu entorno transformar-se em Semi-Árido. Agora, que políticas cada estado vai criar para o atendimento dessas comunidades?

Já existem debates sobre isso em várias regiões.

Como o senhor classifica o abastecimento de água brasileiro?

Olha, não é possível distribuir água para toda a comunidade que está no caminho. As adutoras e reservatórios servem para atenderem os médios e grandes centros urbanos. Se for puxar um ramal para cada localidade no decorrer do caminho, as grandes cidades não serão abastecidas. O que tem que existir são alternativas descentralizadas, como cisternas, água subterrânea.

Muitas vezes os municípios do interior ficam sem água, mas os açudes estão em sua capacidade máxima, perdendo água por evaporação e salinização, sem que a população tenha acesso a água para consumo. Então, para o Semi-Árido nordestino será necessária uma discussão muito séria de uma revisão desses açudes e barragens construídos ao longo do tempo e que não foram erguidos com estudos de balanços hídricos de suporte dos rios. Quando se pensa em aquecimento global, é necessário que se pense nas várias formas de acesso a água pelas comunidades rurais e, assim, fixar o homem no campo. A água ainda é suficiente para matar a sede, mas para qualquer outro uso, teremos que usar a água superficial e da chuva, em pequenas barragens. É preferível que esteja correndo um traço de água em um rio, do que a água esteja se perdendo por evaporação. Pelo menos estará servindo para matar a sede de pequenos animais. Qualquer umidade que seja já é possível se plantar um feijão, ou outra agricultura. Tem que se pensar em mais acesso das pessoas às águas superficiais.

O senhor é a favor da transposição das águas do Rio São Francisco?

A transposição das águas do Rio São Francisco é uma das medidas estruturantes do governo federal que visa atender o abastecimento dos médios e grandes centros urbanos e, certamente, dará uma sustentabilidade a estes centros.

Na verdade, o Pró-água já cumpre um papel de extrema importância, quando traz água e canais, aproveitando as águas superficiais. Mas, paralelo às medidas estruturantes, temos que ter alternativas descentralizadas. Porque um grande canal ou adutora tem um objetivo específico.

Para as comunidades rurais difusas serão necessárias alternativas locais, pois elas não vão ser beneficiadas com as águas do Rio São Francisco. O que não pode acontecer é uma migração para o canal por onde vai ser levada a água. Pois, se essa água passar a ser usada exageradamente, ela não chegará ao seu destino. É o mesmo conceito. Como podemos fixar essas populações em suas localidades e onde elas têm uma identidade cultural? Evidentemente que será com as alternativas descentralizadas. Para os centros urbanos já se tem água para o uso permanente. Acredito que a grande discussão de hoje é o uso contínuo de água para as comunidades rurais. Sem políticas emergenciais.

taperoa.com
A União – Fernando Patriota

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