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Desertificação no Cariri

Desertificação já atinge 77% das áreas dos 29 municípios do Cariri paraibano. Conforme dados do IBGE, mais de 170 mil pessoas moram na região.

Mais de 77% das áreas do semi-árido paraibano, localizadas no Cariri, apresentam algum nível de desertificação. E o pior: em cerca de 50%, a situação é muito grave. Desertificação já atinge 77% das áreas dos 29 municípios do Cariri paraibano. Conforme dados do IBGE, mais de 170 mil pessoas moram na região.

Mais de 77% das áreas do semi-árido paraibano, localizadas no Cariri, apresentam algum nível de desertificação. E o pior: em cerca de 50%, a situação é muito grave. Os dados estão na tese ‘Cariri Paraibano: do silêncio do lugar à desertificação’, do professor e geógrafo Bartolomeu Israel de Souza, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Essa é a primeira pesquisa oficial realizada na Paraíba sobre o assunto. O trabalho foi apresentado no mês passado.

Durante três anos, ele estudou a situação dos 29 municípios da região, que possui uma área de 11.192 quilômetros quadrados. Lá vivem mais de 170 mil pessoas, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2000. No Cariri Ocidental, formado por 17 municípios, a vegetação nativa praticamente não existe mais. As imagens de satélite mostraram que no período de 17 anos, houve um aumento de 14,6% no processo de desertificação. Para se ter uma idéia, em 1989, a área atingida era de 5.980,8 quilômetros quadrados, o equivalente a 63,6%. Em 2006, saltou para 78,3%.

“Nos 17 municípios do Cariri Ocidental, é raro encontrar plantas como aroeira, baraúna, pau-ferro e quixabeira. O que mais se vê são arbustos, a exemplo de marmeleiro e jurema, além de cactos. Mesmo assim, em algumas áreas, nem isso a gente encontra”, disse o professor. O caso que mais chama atenção é o de Camalaú. Com pouco mais de 5.700 habitantes, o município é o que apresenta maior alteração na vegetação. “Parece que jogaram uma bomba incendiária lá. E a situação é igual tanto na seca como no período de chuva”, afirmou Bartolomeu.

O estudo revelou uma curiosidade: o desmatamento desordenado, a retirada de lenha de forma indiscriminada e o uso inadequado das terras não são as únicas causas da desertificação na região. A criação de cabras está contribuindo de forma significativa para a destruição da vegetação. Se por um lado, a economia se fortaleceu com o incentivo à caprinovinocultura, por outro, o problema ambiental só tem piorado.

Os primeiros rebanhos começaram a surgir em 2000. Incentivados pelo governo do Estado, os pequenos produtores passaram a investir em cabras, que se adaptam melhor ao clima seco da região e em comparação com os bovinos, são bem mais econômicos.

Com isso, a vegetação, que já era escassa, passou a ser insuficiente para tantos animais. Para se ter uma idéia, no Cariri existem três cabras para cada habitante. O número já passa de 300 mil. “É o maior rebanho do Estado, o que é muito bom para o desenvolvimento da região. O problema é que não existe vegetação suficiente para tantos animais e isso só está acelerando o processo de desertificação”, explicou o professor.

Com base no clima seco, estima-se que mais de 90% das áreas do semi-árido paraibano (que inclui, além do Cariri, as regiões do Agreste, Seridó e Sertão) sejam susceptíveis à desertificação. Isso significa que se nenhuma providência for tomada agora, num futuro próximo, praticamente todo o Estado sofrerá as conseqüências.

Muito tem se falado sobre o assunto nos últimos anos, mas na prática, não há ações concretas para minimizar ou mesmo evitar a aceleração desse processo. Até hoje, nenhuma pesquisa completa sobre o assunto foi realizada. “O que se tem são suposições, mas não há dados concretos, baseados em pesquisas de campo, por exemplo. Isso demanda tempo e muito dinheiro e infelizmente, há pouco interesse dos órgãos públicos”, frisou Bartolomeu.

Pelo menos com relação ao Cariri nem tudo está perdido. Durante a pesquisa, o géografo descobriu que apesar do estado avançado de desertificação presente em quase toda a região, os solos continuam férteis. “Isso significa que eles têm recuperação, basta que as providências sejam tomadas, o que já é uma boa notícia”, destacou.

Recuperação chega a 20 anos, diz professor

Para o professor Bartolomeu, a solução está na conscientização da população, que precisa ser educada para ajudar a combater o problema. “A grande questão está na forma como as cabras são criadas. Os produtores não têm o hábito de produzir o alimento dos animais e, por isso, ficam na dependência da caatinga nativa. O pior é que eles nem se dão conta dos males que isso provoca. A falta de informação faz com que pensem que a vegetação vai crescer de novo”, disse.

O professor explica que uma área danificada leva de 15 a 20 anos para se recuperar. Isso, se ela não for usada nesse período. “Sabemos que isso é impossível, mas o que se pode fazer é começar a modificar o manejo do solo e incentivar os produtores a plantarem forragem para alimentar as cabras. Para isso, é preciso que a região tenha mais assistência técnica, por exemplo, para que os criadores possam ter essa percepção”, comentou.

Preocupado com o cenário que viu no Cariri, Bartolomeu pretende colocar em prática um projeto de capacitação para professores da rede municipal. A idéia é que eles recebam informações sobre o assunto para que possam repassar aos alunos. “Constatamos que as pessoas da região desconhecem a desertificação e, por isso, queremos fazer um trabalho com as crianças e os adolescentes, que seriam os disseminadores das informações. O nosso objetivo é fazer um projeto piloto em Cabaceiras e depois levá-lo ao restante dos municípios”, disse. (PB)

DADOS DA PESQUISA

Mais de 77% das áreas do semi-árido paraibano localizadas no Cariri apresentam algum nível de desertificação. Em cerca de 50%, a situação é muito grave.

Na região, composta por 29 municípios, vivem mais de 170 mil pessoas.

No Cariri Ocidental, mais de 50% das áreas pesquisadas apresentam uma situação crítica. A situação é mais grave em Camalaú, mas no restante dos municípios (Assunção, Taperoá, Livramento, Parari, São José dos Cordeiros, Amparo, Sumé, Serra Branca, Coxixola, Congo, Monteiro, Prata, Ouro Velho, Zabelê, São Sebastião do Umbuzeiro e São João do Tigre) a vegetação também está sendo pouco a pouco dizimada.

No Cariri Oriental (Santo André, Gurjão, São João do Cariri, Caraúbas, Cabaceiras, São Domingos do Cariri, Barra de São Miguel, Boqueirão, Caturité, Barra de Santana, Alcantil e Riacho de Santo Antônio) a desertificação também é uma realidade.

taperoa.com
JP

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