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PB não viu “Ariano”

Gustavo Paso conta como foi produzida a peça “Ariano”, sucesso de público e de crítica. Gustavo Paso é o diretor e um dos autores do texto da peça “Ariano”, que estreou ano passado no Rio de Janeiro. Gustavo Paso conta como foi produzida a peça “Ariano”, sucesso de público e de crítica. Gustavo Paso é o diretor e um dos autores do texto da peça “Ariano”, que estreou ano passado no Rio de Janeiro.

A peça saiu em excursão por algumas cidades do Brasil. Só a Paraíba ainda não viu "Ariano". Como o próprio título sugere, a peça conta a trajetória do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, que ano passado comemorou os 80 anos em plena atividade, recebendo homenagens do país inteiro.

A peça tem co-autoria do jornalista, poeta e dramaturgo Astier Basílio. Seu elenco conta com vários atores nordestinos. E fala sobre o grande escritor paraibano. Mesmo assim, ainda não foi contratada para se apresentar na Paraíba e no Nordeste. Gustavo conta que já foram feitas gestões neste sentido, mas nada de concreto.

Enquanto isso não acontece, Gustavo vai alinhavando outros projetos. Um deles, chamado “Bodocongó”, que pretende fazer na Paraíba, também com Astier Basílio. Já no Rio de Janeiro, pensa em adiantar uma versão de Otelo de Shakespeare para estrear ainda este ano. Nesta entrevista, Gustavo fala a esperança de trazer a peça à Paraíba e fala sobre o sucesso do espetáculo.

Gustavo, como surgiu a idéia de montar uma peça sobre Ariano Suassuna?

Do simples desejo de se encenar uma obra de Ariano. De início, "A Pedra do Reino…" era o objetivo, mas quando soube que Antunes estava trabalhando buscamos outros caminhos, e o prefácio e posfácio da edição da obra me chamaram atenção para a obra poética de Suassuna. Quando recebi de seu genro o cd Vida Nova Brasileira, afirmei aos meus: "O caminho está na poesia de Ariano!". O que nos encanta é que hoje no espetáculo todos os personagens que encontram ARIANO dizem a ele: "A SAIDA ESTÁ NA POESIA!"

Como você e Astier cotejam a parte biográfica na dramaturgia?

De forma poética. Abordamos fatos que ocorreram em sua vida privada com muita delicadeza. Escolhemos a música, por exemplo, para representarmos a perda de seu pai, assim como o reencontro, poético, como o mesmo. Isto tudo com muito carinho. Sempre afirmávamos um para o outro: não estamos aqui para falar de nenhum assassino.

E o contato com Astier Basílio, co-autor do texto, como aconteceu? É verdade que vocês se conheceram via internet?

Nos conhecemos através de um ensaio que ele escreveu sobre Ariano Suassuna que a atriz da nossa cia teatral Luciana Fávero leu na internet. Eu estava muito avançado na pesquisa acerca da vida e obra de Ariano, com inúmeros livros, conversas com Carlos Newton Jr, que para nós foi importantíssimo neste processo, e ainda não tinha começado a escrever a peça de fato. Convidei alguns dramaturgos, vamos dizer "de ofício", mas todos estavam ocupadíssimos. Ao ler o ensaio de Astier reconheci ali o profundo conhecimento e intimidade com a obra de Ariano e sua importância. Entrei em contato. Escrevemos a quatro mãos e só nos conhecemos no dia 21 de abril. Quando ele esteve nos ensaios aqui no Rio de Janeiro.

De que forma está estruturada a peça?

Nas influencias de Ariano. Isto é o que mais nos guiou. Podemos dizer que tecnicamente a Divina Comédia nos "estruturou", pois a peça está dividida em Sol (inferno), Sangue (purgatório) e Sonho (paraíso), mas estamos impregnados da formação literária de Ariano. Alguns dizem que não é preciso conhecer a obra de Ariano para gostar, mas se se conhece reconhecerá o valor da obra, pois há na peça informações que servem a ela como história de ficção, porém vão além pois são informações bem mais profundas.

Qual o resultado deste seu profundo encontro com a vida e obra de Ariano Suassuna?

Em dois anos de encontros com sua vida e obra entendi e amo mais o Brasil. Ariano é uma lição de brasilidade. Tudo o que diz deveria ser ecoado… se tivéssemos mais uns 4 parecidos (vivos), estaríamos mais bem protegidos culturalmente. E aprenderíamos mais sobre o Brasil. Quantos conhecem profundamente quem foi Aleijadinho?

Como foi formado o elenco da peça?

Posso afirmar a você que NÃO HÁ TECNOLOGIA MAIS AVANÇADA DO QUE O ATOR! Vou atrás desta tecnologia de ponta! Mesmo conhecendo muitos atores, excelentes atores inclusive… gosto de fazer sempre uma audição quando o elenco a ser formado passa de 4 ou 5 artistas. Só convidamos, fora da cia, o Gustavo Falcão para fazer o Ariano, um dos melhores atores do Brasil, de sua geração.

Alguma razão especial para realizar audições?

Novas pessoas… novas experiências… Tem muita gente boa que quer desenvolver um trabalho de cia, um trabalho sério, de longo prazo. Os profissionais requisitados às vezes não têm tempo de ensaiar 3 ou 4 meses… por exemplo. Há também de nossa parte o intuito de investir em artistas que possam vir conosco, seguir em frente.

Ariano chegou a ver o espetáculo? O que ele achou?

Não assistiu ainda… Confirmou presença quando formos ao Nordeste! Nos desencontramos duas vezes por cidades que ele visitou por conta das homenagens…

A peça vem recebendo elogios da crítica especializada, como Bárbara Heliodora, e de publicações como Bravo. Fale um pouco sobre essa recepção da crítica.

O que mais me move é a recepção do público. Faço teatro para melhorar culturalmente o nível do meu país, sem nenhum tipo de demagogia, quem me conhece sabe que penso desta maneira. Este conceito está um pouco esquecido. Quero levar à cena espetáculos que possam melhorar este nível. Há 20 anos tenho isto como meta: qualidade, in-formar com responsabilidade. Acho o resultado da crítica especial, sim. Pois eles também reconheceram isto. Quando Bárbara Heliodora cita que o "Homenageado Merece!" nos deixa emocionados, assim como o reconhecimento da Bravo!, o Lionel Fischer que escreveu uma crítica apaixonada e sem dúvida do que viu, quando os meios de comunicação devotam seu apreço desta maneira, ficamos naturalmente felizes, com a certeza de que acertamos artisticamente…

E a recepção do público, ao assistir o espetáculo?

Foi o alimento mais rico em vitaminas e proteínas que ingeri em 2007! Posso lhe dizer que sou a pessoa mais indicada para lhe dar este depoimento, pois vi todos os espetáculos até hoje! Viajo com a cia, estou todos os dias junto aos atores e técnicos. Presenciar a reação do público realmente está em outro nível, nós ouvimos "bis" e "bravo" em diversos finais de apresentações. Para mim é uma experiência nova que trouxe grande nível de satisfação, simplesmente porque nos dedicamos a construir uma obra nova, nunca feita, que resultou em uma homenagem em vida a um dos maiores nomes da cultura nacional, e o público ovacionou em todos os estados que estivemos.

Vocês estão fazendo excursão pelo Brasil, e além do Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo ainda vão a três estados. Quais são os estados e como está acontecendo esta excursão?

Com enorme dedicação e disponibilidade da cia. Somos uma cia de teatro sem subsídio para existir. As coisas acontecem muito porque o espetáculo repercutiu até fora do país. Tenha certeza de que onde estivermos com ARIANO sempre terá uma empresa ou governo local nos patrocinando. Assim foi nos estados que visitamos. Nós retornaremos com uma temporada de 2 meses no Rio, num teatro de mais de 500 lugares na Zona Sul, faremos Macaé (interior do Rio), e estamos acertando detalhes para voltarmos ao sul do país, Festivais na América do Sul e Europa, mais precisamente Portugal, e talvez Espanha. Mas tudo isto depende de investimento.

Por que a Paraíba, e o Nordeste, não está incluído no roteiro de excursão?

Hoje em dia se não tivermos uma pessoa cuidando para que o espetáculo visite a cidade sendo ela de um dos governos (secretarias de cultura) ou até mesmo produtor local, fica muito difícil. A outra possibilidade é o que estamos tentando há tempos, conseguir por nossa conta, daqui no Rio de Janeiro, empresas do Nordeste ou estatais que queiram patrocinar esta nossa ida ao Nordeste.

No caso da Paraíba, vocês chegaram a fazer algum tipo de gestão para traze-la para cá?

Sim, recebemos alguns contatos mas eles não são, como dizer… inteiros. Nós sempre temos que completar com algo. No caso o mais complicado são as passagens. Mas acho que se alguns estados do Nordeste através de suas principais cidades se juntassem isto seria muito fácil. Sempre que nos voltarmos para a união dos povos conseguiremos grandes coisas, é tão simples e tão difícil, não é mesmo?

taperoa.com
A União – Correio das Artes – Linaldo Guedes

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