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Ameaça de Saques no Sertão.

Ameaça de Saques no Sertão

Agricultores estão ameaçando realizar saques no Sertão paraibano caso não chova até o próximo sábado. A estiagem que castiga o semi-árido vem secando os açudes da região. Hoje, será realizado um ato público, em Sousa, em favor da transposição do rio São Francisco (foto), que garantirá água a 12 milhões de nordestinos.

Alerta no sertão
Seca pode provocar saques


Presidente da Fetag na Paraíba denuncia que sertanejos ameaçam saquear estabelecimentos se autoridades competentes não atentarem para a falta d’água na região

O Dia de São José, a ser comemorado sábado, 19 de março, é sempre uma data limite para os que sofrem com a estiagem. É no "aniversário" do santo em que se espera cair chuva, como prenúncio do fim da estiagem. No entanto, esse 19 de março está sendo apontado não só como uma data de esperança, mas também como alerta. Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura da Paraíba (Fetag-PB), Liberalino Ferreira, muitos sertanejos ameaçam que saques podem acontecer se não chover até sábado ou se nenhuma providência for tomada pelas autoridades públicas. "Perigo de saque tem sim porque para o sertanejo até o dia de São José tem essa esperança. Agora, se não chover, só Deus vai salvar", disse Liberalino.
25% dos 132 açudes paraibanos já estão com menos de 50% da sua capacidade de armazenamento. Oito deles apresentam capacidade abaixo dos 20%. A estiagem que castiga a região do semi-árido da Paraíba é responsável pelo estado de emergência ou calamidade pública em 108 municípios. Para piorar o quadro, a meteorologia prevê chuvas abaixo da média histórica em algumas áreas das regiões do Sertão, Cariri e Curimataú até o mês de maio. Em 2004, 142 municípios decretaram estado de calamidade pública.

O presidente da Fetag diz que a preocupação no momento é mais com a perda da pastagem e da produção do que com o consumo de água para beber. "Os grandes açudes ainda estão cheios e não representam perigo para o consumo humano. Agora os barreiros nas pequenas propriedades estão secos. A situação é agravante para os animais. Muitos estão morrendo porque o que choveu não deu para formar pastagem", destacou Liberalino.

A agricultura já vem sentindo os efeitos da seca. Pelo menos 30% das culturas do algodão, milho, feijão e arroz plantados não germinaram e comprometem a safra agrícola deste ano, que deverá ser menor do que o colhido em 2004, quando o período de chuvas foi atípico.

De acordo com ele, mesmo se os açudes estivessem cheios isso não seria garantia para a produção devido à falta de infra-estrutura para transportar a água até o produtor rural. "Não tem irrigação. O perímetro irrigado é muito pouco. Todo o Sertão, Cariri e Seridó estão numa situação difícil. As chances de chover são mínimas", alerta o presidente da Federação.

O presidente da Fetag disse que a preocupação é com a falta de atitude do poder público. "O Governo Federal se pronunciou dizendo que não haverá plano de emergência. Mas, o que vai se fazer para escapar dessa situação não foi dito e também não se argumentou sobre os motivos disso. Agora essas bolsas rendas também não resolvem", disse Liberalino.

Poucas esperanças
Segundo a meteorologista Carmem Becker, do Laboratório de Meteorologista e Sensoriamento Remoto (LMRS), da Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Minerais da Paraíba (Semarh), o impacto causado pelas atuais condições globais será muito mais sentido na distribuição temporal e espacial das chuvas e não propriamente nos totais acumulados. "Assim a má distribuição prevista será muito mais prejudicial à agricultura do que aos recursos hídricos, onde a recuperação dos volumes dos reservatórios deverá ser plenamente garantida", afirma.

Tal previsão é resultante das atuais condições meteorológicas observadas sobre o Oceano Atlântico tropical, apresentarem-se desfavoráveis às chuvas na Paraíba, visto que o episódio El Niño encontra-se em atividade muito fraca para uma maior interferência sobre as chuvas no Estado.

A previsão da meteorologia confirma que, do ponto de vista agrícola, deve-se tomar cuidado com a possibilidade de ocorrência de veranicos (curtos períodos sem chuvas entre 10 e 15 dias), principalmente em setores do Cariri e Curimataú, onde as características locais desfavoráveis poderão ser somadas à irregularidade prevista para o semi-árido paraibano entre fevereiro e maio. Ressalta-se, porém, que o conhecimento científico atual ainda não permite saber onde e quando os veranicos irão ocorrer.

E é justamente o que vem ocorrendo e prejudicando o setor. Em 2004, o governo estadual distribuiu 1.745 toneladas de sementes e embora exista o calendário agrícola, talvez não atinja essa quantidade por conta da falta de fatores climáticos que beneficiem outras culturas. Francisco Quintans voltou a dizer que a seca é fenômeno normal da região e que o sertanejo tem que aprender a conviver com a estiagem natural que ocorre todos anos.

Mais de 40 cidades pedem carros-pipas
Segundo o secretário da Agricultura, Irrigação e Abastecimento do Estado, Francisco de Assis Quintans, o governo está investindo em culturas que resistem à seca. "Já distribuímos 600 toneladas de sementes de algodão e 50 toneladas de mamona e prevemos a distribuição de 50 toneladas de sorgo ainda neste ano", diz.

O problema da falta de chuvas vem se agravando e o sertanejo já começa a travar a luta pela sobrevivência. Prefeitos de 42 municípios já pediram à Defesa Civil do Estado a distribuição de água através de carros-pipas. Segundo o coordenador da Defesa Civil, Coronel Álvaro Vitorino, todos os pedidos já foram encaminhados à Brasília, mas só serão atendidos aqueles que estiverem dentro das exigências da nova legislação.

"O decreto nº 5.367, de 17 de fevereiro deste ano, em seu artigo 17, inciso 1, criou uma nova exigência para os municípios. Os governos do Estado e Federal só poderão atender aos pedidos dos prefeitos após eles esgotarem todas as providências e com provas do que foi feito para evitar o caos social", diz o coronel Álvaro Vitorino.

Seguro-safra com urgência
Na região polarizada por Cajazeiras, o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, João Bosco Oliveira, disse que "a possibilidade de inverno é de 0%". Por isso, eles estão pedindo urgência no pagamento do seguro-safra, previsto para ser pago apenas em julho ou agosto. "Não tem mais produção, a lavoura de janeiro não existe mais. O seguro safra é para a garantia dos trabalhadores no período de inverno, mas vai ter que ser pago antes", disse João Bosco.

Os produtores da região de Cajazeiras pediram quinta-feira em reunião com o secretário estadual de Agricultura a ampliação das cotas de seguro-safra. "Estava previsto 1585 cotas, mas pedimos para aumentar para mais 1415 e completar os 3000. Queremos também a distribuição de leite também na zona rural porque agora só existe na zona urbana. Muitas comunidades pediram carro-pipa. E a intensificação da produção de cisternas e mandalas e ainda barragens subterrâneas", informou João Bosco. O secretário se comprometeu a enviar documentação ao Governo Federal com as reivindicações dos trabalhadores.

Fonte: jornal o norte online

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