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Artesãs de Taperoá


Arte nas mãos de um grupo de artesãs de Taperoá. Roupas cheias de arte, bonitas e originais.
Arte nas mãos de um grupo de artesãs de Taperoá. Roupas cheias de arte, bonitas e originais.

Retalhos de seda, algodão, veludo e renda renascença se transformam em arte nas mãos de um grupo de artesãs de Taperoá, no Cariri paraibano. Elas criam saias e vestidos utilizando o bordado crazy quilt, uma técnica inventada na Inglaterra, durante a Era Vitoriana (1837-1901).

À primeira vista, o crazy pode aparentar um simples amontoado de pedaços de tecido, mas o efeito final do trabalho é surpreendente. A mistura de cores, formas e adereços dá às artesãs a possibilidade de criar peças bonitas e originais.

A técnica começou a ser utilizada por elas dois anos atrás, durante as gravações da microssérie ‘A Pedra do Reino’, realizadas em Taperoá, cidade que acolheu o escritor e autor da obra, Ariano Suassuna, durante boa parte de sua infância. “A equipe de produção da microssérie selecionou algumas artesãs da associação para fazer parte da equipe de figurinistas. E foi nesse período que a gente aprendeu a técnica. Lembro que a primeira saia, feita durante as gravações, ficou muito ruim porque não havia uma preocupação com a escolha dos tecidos nem com a composição da peça. Tudo que sobrava do figurino a gente ia colocando”, lembra Ana Lúcia Alves, vice-presidente da Associação de Artesãos Clívia Dantas.

As primeiras saias foram vendidas às atrizes que faziam parte do elenco. “Não sobrava uma. A gente ia fazendo e elas iam comprando”, lembra Ana Lúcia. Com o fim das gravações, as artesãs deram continuidade ao trabalho. A arte foi aprimorada, elas ganharam experiência e hoje têm que se desdobrar para dar conta de tanta encomenda. “A gente foi adaptando o crazy à nossa realidade. Aos poucos, fomos percebendo que as pessoas da região tinham outros gostos. Também começamos a receber encomendas de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e de algumas cidades do Nordeste e com o tempo, fomos descobrindo as preferências das mulheres de cada um desses locais. No sudeste do país, por exemplo, elas gostam das saias longas e longuetes. Já as nordestinas optam pelas mais curtas”, conta a artesã.

A professora Sileide Barreto, que mora em Taperoá, foi uma das primeiras clientes. “Sempre me interessei por coisas diferentes, que fogem do tradicional. Quando conheci o crazy fiquei encantada e faço questão de comprar uma peça sempre que tem novidade. Além de ser um trabalho bonito, é uma forma de valorizar o esforço e o talento dessas mulheres de fibra”, comentou.

Peças só para pessoas com muita atitude

Na antiguidade, era comum remendar roupas rasgadas com retalhos. Uma medida de economia utilizada pelas pessoas menos favorecidas. Com o passar dos séculos, o hábito se transformou em estilo e as peças passaram a ser cobiçadas por quem curte moda. “É preciso ter atitude para usar uma roupa feita com crazy. Apesar das peças serem muito bonitas, é um estilo que não agrada a todo mundo. Temos uma clientela diferenciada, que gosta de novidade e está antenada com as tendências da moda”, comentou a artesã Ana Lúcia.

O primeiro passo para a composição das roupas, conta ela, é a escolha dos tecidos. “Só trabalhamos com produtos de qualidade, senão teremos uma peça medíocre, que vai desbotar na primeira lavagem. A ideia é que a roupa dure muito tempo e que esteja sempre com cara de nova”, diz.

Os retalhos são costurados de forma não convencional em uma base de seda. Em seguida, são acrescentados pequenos enfeites, como pedaços de renda renascença, crochê, tenerife, fuxico, renda, fitas e tudo mais que a imaginação permitir. A riqueza de materiais e os detalhes retratam a delicadeza feminina. O nome crazy (que significa maluco, em inglês) pode estar relacionado à disposição irregular dos tecidos. Depois de prontas, as saias e os vestidos são colocados numa mistura de chá preto e mate. A ideia é unificar as cores e o resultado é excelente. “O chá serve para harmonizar as tonalidades, evitando uma poluição visual, já que utilizamos muitos tecidos estampados”, explica Ana Lúcia.

Liberdade

O crazy quilt se tornou popular em 1876 durante uma exposição realizada na Filadélfia (EUA) para comemorar o centenário da independência americana. Considerada um marco na evolução das artes e indústria, a feira internacional contou com a participação de vários países e deu início à modernidade, com a apresentação de várias novidades como o telefone de Grahan Bell, a Máquina de escrever de Remington, entre outras.

O detalhe curioso é que foi a primeira feira mundial a disponibilizar um pavilhão especial para mulheres, que tiveram a oportunidade de apresentar várias técnicas e novidades de trabalhos manuais, principalmente os bordados, que influenciaram a criação de novos estilos de patchwork e quilt. Foi nesse período que o crazy quilt começou sua evolução. A técnica ganhou o mundo e hoje é fonte de inspiração para muitas mulheres. “Trabalhar com o crazy quilt é uma delícia porque temos a liberdade de criar, de inventar. É como se fosse uma obra de arte. É assim que vemos as nossas peças”, diz Ana Lúcia.

taperoa.com
JP

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