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As mil e uma utilidades da palma


João Grilo e Chicó: criaturas inesquecíveis do clássico "O auto da compadecida". O criador, Ariano Suassuna, viveu parte da infância no sertão da Paraíba, cenário de várias de suas obras. O mesmo sertão em que hoje atua um outro Suassuna.
João Grilo e Chicó: criaturas inesquecíveis do clássico "O auto da compadecida". O criador, Ariano Suassuna, viveu parte da infância no sertão da Paraíba, cenário de várias de suas obras. O mesmo sertão em que hoje atua um outro Suassuna.


Paulo (foto) é sobrinho de Ariano. Nascido em Pernambuco, paraibano de criação, formou-se em agronomia e é apaixonado pelas coisas do sertão, principalmente pela busca de tecnologias para o pequeno produtor. "Aí está o desafio. Como fazer em uma propriedade pequena dá o sustento daquela família em uma região sem água como esta", diz ele.

No fim dos anos 80, doutor Paulo começou a pesquisar alternativas de alimento para o gado na seca e apostou numa das plantas mais populares do sertão: a palma.

Ele foi conhecer a planta na sua região de origem, o México, país que carrega o cacto até em sua bandeira.

Nos últimos cinco anos, ele passou a orientar agricultores da Paraíba, como consultor do Sebrae – o serviço de apoio às micro e pequenas empresas. O convite partiu do produtor Mário Borba, presidente da Faepa, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado, que havia voltado de uma visita técnica ao México.

"Oitenta e cinco por cento desse país está em regiões semi-árida em que a palma, o cacto, é a grande alternativa para aquele país”, diz Mario.

Do encontro entre Mário e Paulo, nasceu o "Palmas para o semi-árido". Nos municípios que participam do projeto, já são 15 na Paraíba, as prefeituras cedem a terra e a infra-estrutura necessária para implantar uma unidade de demonstração batizada de "núcleo de tecnologia social", onde os agricultores são treinados.

Na unidade de Juazeirinho, município da região do seridó paraibano, trabalham oito agricultores. Os objetivos do “Palmas para o semiárido, vão muito além de aumentar a produtividade do cacto para dar de comer aos animais.

Nos municípios que participam do projeto na Paraíba, em todo canto a gente se depara com atividades envolvendo a palma. Uma loja em Juazeirinho só vende cosméticos feitos com o extrato da palma.

Shampoo e sabonete são produzidos por um grupo de 18 jovens moradores do município. Em sua maioria, técnicos agrícolas, capacitados pelo Senar, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Há quase um ano eles montaram uma cooperativa. Adeilna Souza se anima com o novo negócio. “Estamos fazendo contato com um empresário do Rio de janeiro que nos procurou devido a um congresso que nós participamos e aí com a porta aberta para a gente que começou o pessoal a nos procurar e o nosso produto sair mais”, diz ela.

De Juazeirinho seguimos para o município de taperoá, onde vamos conhecer uma outra possibilidade de garantir renda extra com a palma.


Estamos na fazenda Panati (foto), onde também foi implantado um núcleo de tecnologia social. A fazenda Panati tem um diferencial em relação aos outros núcleos de tecnologia social implantados na Paraíba. É a primeira a abrigar uma unidade de observação de uma variedade de palma, bem parecida com as outras, mas tem uma vocação diferente: a produção de um fruto cheio de espinho, o figo da índia.

A variedade giala, essa dos figos se adaptou muito bem. Para a lavoura começar a produzir comercialmente ainda vai levar dois anos. Mas a gente já nota uma série de flores e frutos.

Seu Antonio não economiza otimismo. “Tenho certeza que em dois anos esta será a principal fonte de renda da propriedade”, afirma ele.

No meio de tanta palma foi até fácil encontrar um fruto maduro para experimentar.

Além de incentivar a produção e o consumo do figo da índia o “Palmas para o semi-árido” também pretende fazer com que o sertanejo inclua as raquetes da palma em seu cardápio.

Por isso há dois anos capacita merendeiros e professoras das escolas de municípios que aderiram ao projeto. A responsável pela capacitação é a agrônoma e especialista em tecnologia dos alimentos, Ione Diniz.

O curso acontece em uma escola no município de Alagoa Grande. Atentas as funcionárias vão aprendendo a incluir a palma em uma infinidade de receitas.

É o broto da palma que vai ser usado no preparo de doces, salgados, conservas, sucos. Ele é rico em vitaminas e minerais, principalmente em vitamina A, cálcio e ferro, mas ele também é cheio de espinhos. Por isso o primeiro passo de qualquer receita é tratar o broto.

Os brotos já limpos são colocados em uma bacia com hipoclorito de sódio ou água sanitária. Uma colher de sopa para cada litro de água. Passado 15 minutos é só passar lavar em água corrente e usar como quiser.

“A receptividade da população tem sido muito boa em relação aos cursos. A maior dificuldade que a gente tem é o no início. Depois que elas provam, percebem que é como se elas tomassem um suco de cenoura com laranja e aí mistura palma com tudo”, explica.

Todo final de capacitação termina em uma mesa repleta de guloseimas.

Fazer um adulto entender que a palma é historicamente usada na ração animal pode render bons pratos em sua mesa não é tarefa fácil. Por isso o projeto “Palmas para o semi-árido” decidiu investir em um outro público.

A idéia é levar o projeto para as escolas, capacitar as crianças e fazer com que elas levem a palma para a mesa de suas casas. Na horta montada no fundo da escola elas aprendem a cultivar o broto. Broto que já se acostumaram a saborear na hora da merenda. Na sala de aula aprendem a teoria.

Com seus 12 anos Lielma revela um poder de convencimento de gente grande, afinal um projeto ambicioso como o “Palmas para o semi-árido” depende muito dela e de seus jovens coleguinhas. Dá pra dizer que o futuro está em boas mãos.

Programas semelhantes a esse da Paraíba foram implantados também em Alagoas e Sergipe. E, em breve, a Bahia também deverá ter o seu.

taperoa.com
Globo Rural

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