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Entrevista com Ariano Suassuna

Ariano Suassuna, o criador de Chicó e de João Grilo, recebeu a repórter Maria Cristina Poli no Recife e falou sobre seus personagens, brasilidade e lixo cultural. Ariano Suassuna, o criador de Chicó e de João Grilo, recebeu a repórter Maria Cristina Poli no Recife e falou sobre seus personagens, brasilidade e lixo cultural.

Ao vivo, Ariano Suassuna parece mais uma dessas figuras que moram nas páginas de seus livros.
O próprio Ariano vê muita semelhança entre ele e Chicó, personagem de sua obra mais famosa. "O Auto da Compadecida" foi peça de teatro, filme e ganhou projeção nacional com a minissérie da TV Globo, dirigida por Guel Arraes.

"Eu sou mais fantasioso e mentiroso do que aquela mentira lírica e fantasiosa de Chicó. Ele é mais lírico, eu sou mais mentiroso", afirma Ariano.

Suassuna nos recebeu em sua casa, no Recife. Longe do Sertão, é lá o quartel gerenal do dramaturgo, romancista e poeta paraibano.

Com a simpatia calorosa dos nordestinos, ele nos recebeu e mostrou, com orgulho, a casa onde vive com a mulher Célia a quase 50 anos.

Sem cerimônias, Ariano assume seu lado patriarca. Na casa também moram filhos, genros, netos e agregados. São várias casas no imenso terreno da família.

Ariano tem oito irmãos. O pai, João Urbano, morreu muito jovem, foi assassinado em conseqüência de uma luta poítica que tomou conta da Paraíba às vésperas da revolução de 30.

"Um primo da minha mãe, chamado João, foi quem assassinou o presidente João Pessoa. Meu pai foi assassinado por causa dessa morte", conta ele.

O tio de Ariano também foi morto, teve a garganta cortada. O escritor tinha só três anos de idade.

"Por eu me lembrar disso, eu coloquei a história de um sobrinho que encontrou um tio com a garganta cortada. Mas eu não tinha percebido", revela.

A minissérie "A Pedra do Reino" deve chegar ao público ainda este ano pela Rede Globo. Ela foi rodada em Taperoá, na Paraíba, onde Ariano passou a adolescência.

"Não sai do Brasil nunca e nem quero sair. O que é que eu vou fazer lá fora? Olha, vou lhe dizer uma coisa, tem dois lugares que eu gostaria de ir Portugal e Espanha e o norte da África. Mas quando eu estou com muita vontade de ir à Espanha, eu abro Dom Quichote e releio", afirma.

"Os sentimentos são todos universais, pois o ser humano é o mesmo em todo canto. É por isso que eu sou contra a uniformização da cultura e não da cultura universal. O que é lixo universal? Pra mim, Michael Jackson é lixo cultural, Elvis Presley é lixo cultural, Madonna é lixo cultural. Daqui a cinco séculos, ninguém vai saber quem são eles, mas Vivaldi, Mozart vão continuar", acredita.

Defensor implacável da cultura brasileira, Ariano tem sua obra traduzida para inglês, francês, alemão, holandês, espanhol, italiano, polonês.

Ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras e idealizador do movimento harmorial, que tem como objetivo estimular a arte erudita em todas as áreas, a partir da cultura popular.

Sobre o futuro do cordel, uma das formas mais antigas de se contar histórias no nordeste, Ariano tem seu diagnóstico: "Eu já vi muita gente que profetizou a morte do cordel e o cordel ainda está vivo. O grande brasileiro que foi Alseu Amoroso Lima, disse uma frase uma vez que me impressionou muito. Ele disse que "do nordeste para Minas corre um eixo que não por acaso segue o curso do Rio São Francisco, o rio da unidade nacional. A esse eixo o Brasil tem que voltar de vez em quando, se não quiser se esquecer que é Brasil."

Além de nacionalista, Ariano também é católico convicto. "Ao meu ver, o que distingüe os homens dos outros animais é a noção de bem e de mal. É por isso que o homem é criminoso, mas é por isso que o homem escreve o Hamlet. É por isso que eu digo que é daí que vem a miséria e a grandeza do homem. Graças a Deus", encerra Ariano Suassuna.

Programa exibido em 28.04.2007

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Globo – Jornal Hoje

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