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Mitos e Verdades

Erram aqueles que afirmam que a avicultura não dá certo no Nordeste, porque a região não produz grãos.

 

Ora, qualquer um que vê televisão, lê jornais e revistas e é um sujeito bem intencionado e de bom senso sabe que o mundo globalizado extinguiu as fronteiras entre os estados, e a tecnologia da informação e do transporte permitiu a troca de mercadorias entre lugares tão distantes como Cingapura e Taperoá.

Fazer negócio hoje entre regiões tão distantes entre si é tão simples quanto achar areia no deserto ou pedra no Cariri, pois bem, para isto basta apenas que de um lado da tela de um computador exista alguém com dinheiro no bolso precisando do produto e, do outro, alguém com o produto armazenado e disposto a vender, de modo que os acordos de compra e venda de grãos são fechados no clicar de um botão. Assim um carregamento de milho e de soja pode ser levado de uma região que produz para outra que não produz em questão de dias.

Causa espanto que em plena era da comunicação “on line” ainda existam pessoas cultas que desconheçam a forma dinâmica que o comércio internacional se desenvolve e passem a defender antigos, malfadados e arcaicos conceitos de que as criações de aves e de suínos são inviáveis em regiões como o Nordeste brasileiro, porque estes competem com seres humanos pelos escassos recursos alimentares locais.

A China que não é lá uma grande produtora de grãos, na verdade é uma grande importadora, é um exemplo fantástico de sucesso da criação de monogástricos que poderia ser seguido pelo Nordeste. Pois bem, este país detém o segundo lugar como produtor e o quarto como exportador de carne de aves e, além do primeiro lugar como produtor de ovos, possui o maior rebanho suíno do mundo. Bom, alguém poderia perguntar, se a China tem a maior população do mundo e não é um grande produtor de grãos porque este país incentiva a criação de aves e suínos que comem os mesmos grãos que sua numerosa população humana? Ora, o frango transforma com eficiência como nenhuma outra espécie animal, a proteína de baixa qualidade dos grãos em proteína de alta qualidade para alimentar o homem, então não é de causar espanto que a milenar sabedoria chinesa tenha percebido esta verdade universal.

Cito como exemplos, além da avicultura e da suinocultura, a aqüicultura, a agricultura familiar e a fruticultura de exportação que têm presente e futuro brilhantes na região Nordeste e que podem ajudar esta região a atingir o tão almejado desenvolvimento que precisa.

Talvez, o fator mais critico e mais esquecido da produção animal hoje, quero lembrar, não é mais o grão, mas a água, um bem cada dia mais escasso e valioso na natureza. Relacionando os dados de consumo de água por bovinos e aves publicados pela Embrapa Suínos e Aves ( http://www.cnpsa.embrapa.br ) encontramos números espantosos como p. ex., uma vaca não gestante ou um boi bebe 45 L de água/dia, o bastante para alimentar 280 frangos (0,16 L/dia) ou 180 galinhas poedeiras (0,25 L/dia). Uma vaca em lactação (produzindo leite) bebe em média 62 L de água/dia, o suficiente para alimentar 390 frangos e 250 galinhas poedeiras. O frango pode produzir mais de 180 toneladas de carne por hectare/ano e as poedeiras mais de 120 toneladas de ovos/hectare/ano, enquanto os bovinos produzem em média 30 a 40 kg/ha/ano nas condições de criação do Nordeste.

A criação de frangos é uma resposta moderna ao aumento da demanda por proteína animal por uma população mundial de mais de seis de bilhões de pessoas.

Quem não se lembra, em meados do plano real, o frango, de tão barato, foi usado como instrumento de política econômica para segurar a inflação. Isto sim, é uma demonstração positiva e clara da contribuição do setor avícola a economia do país.

O crescimento e o enriquecimento da população mundial e os investimentos feitos na promoção da carne de frangos como saudável para o ser humano no século passado, aliada ao baixíssimo custo de produção, gerou um dos mais brilhante milagre econômico e social da humanidade, o de garantir a segurança alimentar e levar a carne à mesa dos mais pobres. Este milagre somente foi possível graças às pesquisas desenvolvidas nos institutos e universidades públicas brasileiras. Ao passo que o frango na década de 70 era abatido com 70 dias de idade com peso inferior e consumindo três vezes mais ração que o frango abatido hoje com 42 dias de idade.

A avicultura moderna vem se pautando por conservar em todas as suas atividades a ética na produção, respeito ao meio ambiente, produção de alimentos baratos e de alta qualidade para combater a fome da humanidade e contribuir para melhorar o bem estar da sociedade. A avicultura é, assim como a suinocultura, atividades que primam pela racionalidade: necessitam de pouco espaço para produzir, garantem mercado para os grãos, os galpões podem ser instalados sobre os solos mais fracos da propriedade, e o seu esterco é rico em minerais, especialmente, fósforo e nitrogênio, que melhoram a fertilidade dos solos e a produção agrícola. Além disso, o salário médio pago na avicultura é o mais alto do agronegócio, sendo mais seguro e cômodo criar frangos de forma integrada a uma grande empresa de produção verticalizada, que criar qualquer outra espécie animal no Nordeste.

 

A criação de aves no Nordeste é sinônimo de sucesso.

Os mitos assim como os fantasmas e a loucura, são difíceis de abandonar, de ignorá-los e de não temê-los.

A produção abundante de carne e leite de ruminantes nos países mais ricos do planeta depende tanto de grãos como a produção de aves, portanto, sofisma quem diz que os ruminantes são mais adaptados ao Nordeste porque só consomem capim. No próprio semi-árido, durante a estiagem, os grãos e seus subprodutos são muito úteis à sobrevivência e a produção dos rebanhos bovinos, caprinos e ovinos.

O clima não é uma barreira intransponível para a criação de frangos nas condições naturais no sertão, pois da mesma forma que as vacas mais produtivas de leite do mundo, as aves rendem mais com a climatização de ambientes, por ex., com o controle total do clima nos galpões, tecnologia já disponível e barata para os criadores de aves, desde Oiapoque ao Chuí. Isto permite aumentar a densidade de criação das aves dos atuais 10 aves/m2 do galpão, para 18 a 20 aves, quase duplicando a produção. Então, a criação de frangos sob condições de ambientes controlados não sofre influencia do clima externo, enquanto a criação de bovinos leiteiros, p. ex., é altamente dependente do clima e os animais são muito sensíveis ao ataque de parasitas como os carrapatos.

Esperam-se mais das instituições públicas de fomento ao desenvolvimento regional que simplesmente críticas a criação de monogástricos no Nordeste, que abram os olhos e passem a reorientar suas políticas para a região Nordeste incluindo e reconhecendo efetivamente o importante papel que a avicultura vem exercendo em cidades do semi-árido paraibano como Pocinhos, Soledade, Monteiro e de outros Estados como a cidade de São José do Egito em Pernambuco. Como sabemos, a avicultura e a suinocultura caipira são importantes elementos no combate a fome e na distribuição de renda e geração de trabalho para as famílias nordestinas.

 

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José Humberto Vilar da Silva – Professor da UFPB.

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