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O rio Morto

Se existe um rio de integração do Estado da Paraíba, sem nenhuma dúvida, este rio é o Taperoá, que olhando pelas lentes do satélite (http://maps.google.com) nasce difusamente nas terras elevadas da Serra do Teixeira e Desterro e segue em Direção a Taperoá, depois de passar por Boqueirão, avança até o Rio Paraíba e finalmente desemboca no mar em João Pessoa.

O que salta aos nossos olhos ao examinar as imagens de satélite é a grande faixa branca de areia do leito do rio, depois aparece ali e aqui uma tênue e delgada faixa verde ciliar constituída por plantas que não são nativas, tanto em direção a nascente como a foz do rio tendo a cidade de Taperoá como ponto de referência. Curiosamente, estas pequenas faixas ciliares, acompanhando a sinuosidade do rio, desaparecem incrivelmente após as águas ou areia se afastarem dos aglomerados urbanos.

Lá do alto, as imagens de satélite mostram que, assim como o mar morto, o rio Taperoá vem paulatinamente morrendo. Aliás, a percepção que o solo do rio está mais seco é recente, falo de 20 anos para cá, quando os agricultores começaram a perceber que as antigas cacimbas estavam secando e isto assombrou as pessoas fazendo surgir uma boa polêmica nas cidades ribeirinhas sobre em quem devia recair a culpa por este fenômeno.

Certa vez tive conhecimento de uma campanha deflagrada entre a população para erradicar a algaroba no município de Taperoá. Curioso, perguntei a uma pessoa que passava o motivo de uma medida tão radical. Respondeu-me que a algaroba estava sendo acusada de secar o solo e o leito do rio. Além disso, causava trincas em paredes de cisternas e de quintais e lançava na atmosfera, por um processo de gotejamento foliar, a água retirada do solo. Ouvi atentamente os argumentos e, somente depois, conclui que foi pensando assim que as pessoas tiraram a idéia que a algaroba secava o solo. Perguntei se as pessoas não desconfiavam das múltiplas barragens do rio como causadora do problema em plena era do aquecimento global e redução do regime pluviométrico? Argumentei que as barragens impediam as águas de descerem livremente rio abaixo e formarem depósitos subterrâneos tão importantes para manter cheio o lençol freático e fazer a água voltar às cacimbas por mais rasas que fossem, do contrário, a água somente deveria aparecer em poços mais profundos.

Fiquei intrigado com o que acabara de ouvir e resolvi fazer uns cálculos com base na área plantada de algaroba e conclui que erradicar a algaroba não era uma boa decisão para economia frágil da região semi-árida. Não se imagina que isto possa ocorrer algum dia pelo forte impacto negativo sobre a renda dos mais pobres que catam e vendem vagens, na renda dos agricultores que precisam de madeira para fazer cercas e de lenha para a queima. Estima-se que somente de vagem o Nordeste produza cerca de 0,6-1,0 milhão de toneladas com um rendimento bruto de 12 a 22 milhões de dólares. Concordo que é pouco, mas sem esta planta o saldo seria próximo a zero. A acusação de que a algaroba é uma planta agressiva para conseguir água pode até ser verdadeira, não duvido.

O certo é que a areia do rio está mais seca e o fato de existir muitas algarobas nas beiradas e no seu leito é por falta de uma ação efetiva do homem no controle desta planta que, aliás, é disseminada através da distribuição de suas sementes através do esterco dos animais que comem suas vagens.

Enfim estes são alguns casos polêmicos entre outros que envolvem o rio Taperoá. Casos mais graves e não revelados pelas imagens de satélite, só podem ser vistos “in loco”, são os esgotos de cada cidade que formam lagoas de coliformes fecais pútridas, os lixões e os despejos de animais mortos e de fossas domésticas, que contaminam e impedem que o rio se transforme num local aprazível para o lazer e a recreação das pessoas que vivem a margem dele pelo menos nos dois ou três meses do ano de cheia.

Promessas demagógicas de revitalização do rio Taperoá feita por políticos eu já li, inclusive, neste site. Entretanto, uma meta como esta demanda paciência e recursos. Não é fácil tratar o esgoto de várias cidades banhadas pelo rio Taperoá, não é fácil fazer educação ambiental de cidadãos que não sabem ler. Apesar do otimismo e esperança que tudo pode mudar para melhor, também reconhecem-se que as dificuldades práticas coloca a batata quente na mão do cidadão, e a ele cabe a escolha entre as lagoas de coliformes mal cheirosas nas imediações de suas cidades ou exigir das autoridades um tratamento mais civilizado para o problema.

 

taperoa.com
José Humberto Vilar da Silva

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